بسم الله الرحمن الرحيم
و الصلاة و السلام على أشرف المرسلين
و على اله و اصحابه أجمعين
Abū Umāma narrou que certo homem disse: “Ó Mensageiro de Deus, permite-me partir para a peregrinação.” Ele respondeu: “A peregrinaçãoda minha comunidade é a jihad pela causa de Deus.”
O Profeta ﷺ recebeu as palavras abrangentes (jawāmiʿ al-kalim), de modo que cada palavra que pronunciou possui setenta significados, correspondentes ao número de véus entre Deus e a criação. Cada palavra que ele ﷺ profere contém o conhecimento das primeiras e das últimas coisas. Como poderia ser diferente, quando Deus nos diz: “E ele não fala por capricho; não é senão uma revelação revelada”?
A palavra “jihad”, que infelizmente é demasiadas vezes reduzida ao significado de “guerra”, levou muitos jovens da comunidade muçulmana a crer que o ódio pela causa de Deus e a rejeição dos outros seriam o auge da religião e o mais elevado grau da fé. Contudo, Deus criou este universo sobre o fundamento do amor, e o princípio da atração é apenas uma manifestação disso. Uma compreensão sublime das leis do universo e dos níveis do Nome nos ensina que o ódio, na realidade, é apenas uma das estações do amor, e a rejeição, uma das gradações da lealdade. A lealdade é a regra, e a rejeição é a exceção; o amor é a regra, e o ódio é a exceção. Por isso, a misericórdia precede a ira desde a pré-eternidade. Abū Hurayra narrou que o Profeta ﷺ disse: “Quando Deus completou a criação, escreveu e colocou acima de Seu Trono: ‘Minha misericórdia prevalece sobre Minha ira.'”
De fato, existem vários tipos de jihad. Algumas são obrigatórias apenas para parte da comunidade muçulmana (farḍ kifāya), enquanto outras são obrigatórias para cada indivíduo (farḍ al-ʿayn), como a jihad contra o próprio ego, que é o mais elevado nível de jihad, conhecido como “a jihad maior”.
Quanto ao hadith citado, se o considerarmos na estação da excelência espiritual (iḥsān), ele significa que a verdadeira siyāḥa é a jihad do discípulo no caminho de Deus, o caminho da realização dos níveis do Nome Supremo. É a jornada dos níveis do Hāʾ da Identidade, ao Lām da Contração, ao Lām do Conhecimento, à Nuvem do Senhor, até chegar ao Alif da Unidade (tawḥīd).
Esta siyāḥa é ao mesmo tempo esotérica e exotérica, física e espiritual. Por meio dela, o discípulo vagueia pelos mundos de seu próprio ser, nadando nas realidades cósmicas profundas de seu Sheikh. O discípulo torna-se como a terra, que gira em torno de seu próprio eixo e ao mesmo tempo flutua em órbita ao redor do sol, que é sua origem, e do segredo nele contido. De fato, o centro da terra nada mais é do que um sol em miniatura.
Apesar de seu estado de imobilidade (sukūn), o sol navega para seu lugar de repouso. Quanto à terra, seu movimento expressa seu desejo de alcançar aquele estado de imobilidade. O sol firma-se sobre o trono do amor ao ser completamente incinerado no Amado pré-eterno, enquanto a terra busca consumir-se no amor pelo centro de sua órbita. Quanto mais se aproxima do sol, mais se aproxima de sua aniquilação, e mais próxima está sua hora.
O estado de imobilidade pertence apenas ao Sheikh, pois sua aspiração santa extinguiu-se Naquele que ele deseja, pois Ele é sua identidade. Como foi dito: “se não fosse o mediador, não haveria nada a mediar”. Quanto ao estado de movimento, ele pertence ao discípulo que busca extinguir-se no mediador.
A imobilidade é, pois, a estação do Sheikh, enquanto o movimento é o locus de manifestação do discípulo. Aquele que se torna imóvel através de Deus, O conhece, enquanto aquele que se move n’Ele O limita e confina.
Fonte: Os Fundamentos da Tariqa Karkariya, Sheikh Mohamed Faouzi Al Karkari.